domingo, 18 de outubro de 2020

Sente esse Cheiro?



É um café fresquinho,
É um Bolo de milho quentinho,
Um Abraço de um filho,
ou de um ente querido.
Sente esse Cheiro?
É um dia a toa,
Uma risada gostosa de uma cosa boba,
Um Livro bom de fitar,
ou uma rede boa pra deitar,
Sente esse cheiro?
É Ouvir o canto dos pássaros,
Apreciar o Pôr do Sol,
É não fazer nada ou fazer tudo,
É admirar um Girassol.
Sente esse cheiro?
É a chuva molhando a terra,
é seu filho contando uma piada,
é um churrasco de domingo,
uma boa "prosa" animada.
Sente esse cheiro?
Ela passa e você nem vê,
talvez você perceba tarde, ou cedo,
As vezes você aproveita, outras vezes não,
As vezes tem coragem, mas também tem medo,
Sente esse cheiro?
Esse cheiro É a Vida!
Então, Viva!

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Maldição das Malaquitas


France – Paris – novembro – 18 – 1964

      O frio não havia vindo tão forte aquele ano, naquele loft do 3º andar da Avenue des Champs-Élysées o mundo lá fora parecia ainda mais alheio a toda a realidade que ali dentro se formava.

      O barulho de uma cadeira sendo arrastada ecoou por aqueles salões vazios do prédio em que Jack estava, ele a arrastou até próximo a janela onde poderia ter uma bela vista dos “castanheiros da índia”, que são árvores que ocupam toda a extensão da avenida.
Jack jogou-se nesta cadeira de madeira bruta, tal como alguém que se acomodasse em um fino sofá de linho egípcio
            -- Para mim está bom demais!. (pensou ao sentir a retração do impacto em suas costas)
Abriu levemente a janela de correr da era Vitoriana, ao qual era grandemente fascinado, achando que foi a melhor era da humanidade, definitivamente a “era de ouro” do mundo. Abriu o suficiente para ser sucintamente atingido pelos finos pingos da garoa que banhava a cidade luz, recostou seus pés no batente da janela, e acendeu um cigarro para admirar sua inigualável beleza.
           
            -- tsc... Campos Elisios mais caros do mundo..! Balbuciou por entre a penumbra apenas da luz que entrava pelo feixe aberto na janela.

       Em um súbito inigualável de sã consciência, se pegou imaginando o que faria ali naquele ambiente tão requintado, que definitivamente não fazia parte do seu mundinho seleto de cães selvagens.

       Foi então que ao virar sua atenção a cama, viu –a como um anjo, um anjo decaído redentor de seus pecados mais profundos, em um sono tão leve ao qual ainda expirava aquele desejo insaciável do proibido.

      Apenas com o lençol tampando seu corpo, entrelaçada deixando sua pele lisa como a mais perfeita peça de tecelagem refinada, o vento gélido que entrava arrepiava seus poucos pelos ao longo de suas pernas. Ele foi subindo sua visão cada vez mais acompanhando a curvatura daquele corpo que por tanto tempo perseguiu, procurou nos cantos do mundo, sempre sem sucesso, e de repente ele está ali prostrado em sua frente.

      E percebeu que não só observava, mas também era observado, o conjunto daquelas Malaquitas verdes com incomparável beleza, em um lindo e convidativo sorriso.

            -- Já Em pé? – Perguntou ela com a voz rouca e se espreguiçando deixando ainda mais de seu corpo a mostra.
            -- Admirando o que Paris tem de melhor – Disse Jack dando mais uma tragada em seu cigarro e o arremessando pela janela.

-- Definitivamente você não tem modos.

            -- Menos até do que gostaria - Retrucou Jack

Ela sorriu, e ele se voltou para a porta, foi saindo de forma discreta... quase que como em câmera lenta, ela pode ver cada micro-expressão em seu rosto. Sentimentos de Euforia, tristeza, alegria e solidão se misturavam naquele velho rosto já cansado da vida.

Ela não esboçou nenhuma reação, enquanto escutava o eco dos passos no piso de madeira, cada vez mais distantes em direção a porta, pois sabia que seria a única a quem o fazia retornar e tomar qualquer beco como um lar, ao menos por um dia.


Ela Levantou-se e seguiu em direção a janela, ainda pode vê-lo e acompanhou aquele caminhar solitário, quase como uma marcha apocalíptica da solidão, até perde-lo de vista nas trevas da cidade luz, ciente que em algum momento o veria novamente.  

terça-feira, 19 de julho de 2016

Cotidiano...



Olá!
Lembra-se de mim?
Eu espero que não.. .
Pro seu Bem, é sério.
E se você se lembra, ainda sabe o porquê não nos falamos mais.
Eu sou o Jack, e não, não sou uma boa pessoa.
Tenho o péssimo hábito de espalhar a confusão, e destruir sonhos alheios. 
Bem quando recebi o teu email, de certa forma eu até achava que um dia isto poderia ser algo que desse certo... tipo eu... e alguém.
Mas quando li tudo que escreveu, e não te recrimino, pois a culpa toda é minha, eu já te disse e continuo dizendo. Eu não sou uma boa pessoa.
Eu me dou muito bem na solidão, o beijo doce e gélido do nada com o ninguém. A sensação de acolhimento de passar o natal bebendo sozinho em um porão sujo e desejando votos de felicidade apenas ao frio.
Não... não me arrependo de ter te conhecido, não me arrependo dos dias em que me fez sentir humano novamente. Me arrependo do momento em que te prejudiquei, mesmo eu sabendo que isto iria acontecer... ou não.
Não sou de desejar nada de bom.. você me conhece e sabe exatamente o que eu penso... então ao invés de um adeus melancólico ou algo do tipo. Apenas pense comigo mais uma única vez...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

He's lost in the wilderness





Era Inverno do ano de 1975.

Jack acorda de um sono repentino em seu pequeno quarto de um hotel de quinta situado a avenida wabash na cidade de chicago.              

A garrafa de whisky quase vazia caída ao chão, a ponta do cigarro ainda acesa queimando no cinzeiro, os papéis rabiscados e amassados perto da lixeira, e ao fundo no ´pequeno rádio tocava it's a man's man's man's world de James Brown, o cenário perfeito para uma noite solitária.

Jack se levanta e lava o rosto e sai, acende seu cigarro enquanto caminha pelas ruas, procurando um rosto, um sorriso, um olhar. Não um qualquer, mas um em específico, um ao qual passou anos a procurar mas nunca o encontrou. Um olhar em que algum vagabundo desalmado como ele possa recobrar a consciência de seus atos durante a noite, e se recostar em seu suave sorriso convidativo a uma bela noite de sono.

Quando deu por si, já estava bêbado sentado a última mesa de um bar, no canto mais escuro... só teve tempo de ver um belo par de olhos e um sorriso por entre um vulto chegando ao seu lado e desmaiou.

Acordou pouco depois... um bilhete ao seu lado dizia:
“Não me Procure, eu estou em você.”


Levantou-se mas que rapidamente... saiu a rua, olhou para todos os lados mas não a reconheceu. Deu um suspiro sarcástico... arrumou seu sobretudo, acendeu outro cigarro e continuou a andar e contemplar aquela cidade cinzenta, certo de que seu sorriso mesmo perdido, estava ali.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014



Foi então que naquele dia Jack não quis usar o elevador, achou melhor usar a escada
"seria bom esticar as pernas" - Pensou ele, mesmo que fossem por míseros 6 andares. 
Se atreveu a subir lentamente, pois seu corpo já não possui a mesma vitalidade de outrora, 
até que ao chegar no meio da escada do 3º andar, ele escuta um estalar de porta batendo com violência, em seguida passos, provavelmente de saltos, descendo em sua direção. 

Ate que.. ela surge no topo da escada á sua frente, linda e reluzente como um anjo decaído em busca de salvar alguém como ele, cabelos longos e negros como uma noite sem nuvens, lindos e profundos olhos verdes que o fitavam sem se desviar um único segundo sequer. Ela estava ali parada a sua frente esperando uma centelha, uma pequena reação que fosse sua, sem deixar em nenhum momento de tomar a situação para si com aquele lindo sorriso. 

Em um momento de adrenalina Jack olha ao seu redor, pernas tremem, mãos suam frio, um turbilhão de idéias e pensamentos em sua cabeça. Atualmente aquela, apenas aquela mulher tinha o poder de lhe provocar tais sensações. 

Então ele Sobe... vai lentamente em sua direção, degrau por degrau,  e ela ainda com o belo sorriso em seu rosto fitando-o sem desviar seus olhos dos dele, a respiração de ambos fica mais ofegante a cada degrau transpassado, Até que Jack se aproxima, a toma para si segurando firmemente em seus braços, e a beija como se não houvesse nada ao redor, como se ninguém pudesse vê-los ou flagrá-los ali naquele lugar inadequado. Beijam-se com vontade, com ardor, como quem há muito tempo espera por isso, os minutos vão passando e a vontade de permanecer ali só aumenta mais e mais a cada instante daquele momento tão esperado. 

E da mesma maneira que começou, terminou. Despediram-se apenas com um olhar cúmplice. 

Jack seguiu seu caminho subindo a escada, e aquela estonteante mulher continuou seu caminho como se nada tivesse acontecido. No pensamento de ambos, eles já imaginavam que nenhum deles esqueceria este momento.

Passei a escutar bolas de bilhar se batendo ao fundo bem ao longe... voltei a escutar a música que soava daquele velho vinil de Otis Rush... e recuperando a minha consciência em meio a um misto de cerveja quente, vômito, e baba minha no balcão balbuciei sorrindo:
                --Double Trouble! (Simplesmente seu melhor disco)
O Barman simplesmente ignorou este nobre vagabundo em meio a sua festa na sarjeta... não há imagem melhor da derrota do que.. a minha! Ponto. Simples e puramente assim.
Estava praticamente em casa, cerveja barata, apostas no bilhar, uma velha mesa de Poker ao fundo com “nobres senhores” tentando fazer com que o outro fique cada vez mais pobre. Simplesmente este é o meu Habitat natural. Ao menos por aqui ela sai da minha cabeça.
Seus lindos cabelos longos... seu sorriso perfeito, as tatuagens espalhadas pelo corpo, e um jeito meigo de me olhar que só ela tem. Quando estou com ela me sinto novamente digno de ter um nome, ser alguém... Meus olhos pedem uma coisa, e minhas atitudes me trazem outras.
Dizem que os olhos são o espelho da alma, se é assim, aquela alma linda não combina com a minha cinzenta, talvez seja este o motivo, ou minha desculpa para não me acabar de vez em uma garrafa de whisky vagabundo.

Em meio aos meus devaneios recobro a minha realidade dura e fria de uma noite chuvosa, e 15 km para andar e pensar na vida até chegar em casa. Eu meu cigarro, minha garrafa, e a solidão amiga de longa data. 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Abandono...


Minha alma está suspensa, não vejo, não escuto, não penso, não sinto...
Apenas meu corpo está lá... Sem cor, sem vida...
Penso ainda o que fiz de tão grave para ser alguém que mereça sofrer tanto em uma vida só, porque não sobrou um resquício sequer de compaixão para a minha pessoa?
Tento me recordar qual foi à última vez que senti carinho ou compaixão, ou até mesmo algo que lembrasse o amor.
Sinto que preciso conversar desabafar, alguém para simplesmente ouvir o que eu digo em silêncio, e após eu terminar se levantar e for embora. Isto já resolveria ou ajudaria a resolver metade dos meus problemas, ou da dor que sinto.
Já pensei até em finalizar com tudo isso, mais o tinhoso me devolveria pois não valho o trabalho que ele teria para ficar com minha alma.. se é que ainda tenho uma.
Queria um mês... pelo menos um mês por ano, tipo férias, me sentir humano de novo. Com pessoas que gostassem de mim realmente, com pessoas que se importassem de fato com o que sinto e com o que penso, e que principalmente me escutassem até o final.
Mesmo que tudo fosse um sonho, só isso já valeria meu dia. 

terça-feira, 12 de julho de 2011

Visões

Meu nome?

você saberá que me conhece, mas agora ele é indiferente...

aparentemente nem existo em você. Ao menos e o que você quer

que as pessoas pensem. Tudo que se diz normal na vida de uma pessoa

não acontece aqui. Sonhos, desejos, planos, nada disso é tão perspicaz

quando as vontades que eu sinto.

Simples vontades... de correr... de gritar... de pular... de rir...

chorar... fugir... tudo sempre em um único momento do meu sonho...

quando? quando vejo Você!.

Agora Lembra-se de mim? me chamo Saudade.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sem Rumo...


Em um outubro qualquer, em uma noite chuvosa e meio nublada... Jack estava tranquilo, curtindo um bom blues, demonstrando sua habilidade no bilhar, e tomando uma cerveja tão vagabunda quanto o lugar em que estava.
Quando o telefone toca escuta uma voz doce e trêmula.. quase que como se estivesse realmente falando junto ao seu ouvido, fazendo-lhe um convite irrecusável para um filme a dois com a pequena moça naquela noite.
Quando ele se aproximava da residência da pequena moça, suas mãos passaram a suar frio e o coração desparar como não acontecia há muito tempo, não sabia ao certo o que sentia se era a vontade tê-la em seus braços ou a adrenalina do momento, e quando ele se deu conta e tentou disfarçar, eis que surge ela... cabelos presos e um sorriso lindo, olhos fixos em sua boca, o fazendo ficar em dúvida se ela queria falar-lhe algo ou simplesmente beijá-lo loucamente ali mesmo.
Acabaram ficando apenas com um "oi" meio tímido, quase um sussuro. Ela o convidou para entrar, e ele com toda educação de um cão de rua entrou em silêncio e desconfiando de cada passo que ela dava em sua frente.
Ainda Dona da situação ela o convidou a sentar-se ao seu lado para conversarem um pouco antes de assistirem ao filme, ele se sentia estranho, deslocado, talvez por saber que ela apesar de não querer demonstrar sofria, e com isso ele se sentia acoado, pois nunca havia estado junto de uma mulher que pensasse em outro enquanto estava em sua presença, mesmo ele sabendo que ainda não haviam sido criadas nenhuma oportunidade para que ela desviasse seu pensamento.
Sentiu-se em partes usado, não que isso lhe incomodasse, pois até preferia assim, é um meio mais fácil de evitar vínculos, o caminho mais curto para a tranquilidade que é não ter relacionamentos.
Foi Então que um silêncio constrangedor ensurdeceu os dois, sem saber nem o que faze com as mãos, inquetos, então em um lapso de calma, jack recobrou sua alma de vagabundo e atacou a dama em um beijo profundo e demorado arrancando todo e qualquer pensamento de suas mentes, apenas deixaram-se levar pelo momento.
Para eles, o que seria o amor? O certo é que ambos estavam desacreditados, porém curtiam o momento pelo prazer de uma boa compania, e ter alguém para compartilhar alguns bons momentos... os poucos que restaram.
Mas como nem sempre a vida é facil, em um surto de remorso... ela pulou de seus braços pedindo para que ele fosse embora, vendo aquela cena, Jack levantou-se vestiu seu casaco de couro velho, e saiu para a rua. A lua estava cheia, o cigarro vagabundo que ele fumava, o latido dos cães por onde ele passava, sinal que a noite apenas começara para o velho e longo caminho da solidão que ele conhece tão bem.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Estado de Espírito. #

Estava eu ali, sentado na sarjeta da rua mais escura da cidade naquela noite, pregando mais um preguinho no meu caixão com aquele cigarro vagabundo, um whisky de quinta além de estar curtindo um puta visual das estrelas. Naquela noite parecia que a terra deixou o céu muito mais estrelado que o normal, mais bonito, como quando uma jovem donzela se veste para um baile de gala e se depara com um vagabundo como eu, e abandona seus sonhos e planos para viver apenas uma aventura noturna que não passará de simples prazer carnal.
Não que eu ache ruim, gosto demais é, aliás, desse tipo de mocinhas desprotegidas que eu mais gosto, corrompê-las para o lado negro da força, fazê-las acordar para a vida, pelo menos pelas horas em que elas ficam trêmulas e ofegantes sob o meu poder. Há algum tempo atrás eu nem pensava assim, eu tentava suprimir meus pensamentos e minhas reais atitudes que são essas de cão sarnento, mas a cada dia que passo, vejo que esforço nenhum vale a pena.
Cada dia em que deposito confiança é uma decepção diferente, A única a quem devo fidelidade é Betty, minha guitarra, na qual tem um enorme ciúme de mim, pois eu a abandonei erroneamente uma única vez, coisa que me arrependo e nunca voltará a acontecer.
Não é algo de que me orgulhe, mas gosto do ambiente que vivo, que sinto, é na casa do rock que eu me sinto bem, eu, meu velho cigarro vagabundo, um whisky de quinta que meu fígado tem sobressaltos a cada contado, e essa chuva fina que cai agora na minha cara suja, é... não há lugar como nosso lar.

Diego Brum - 09/09/2010