France – Paris – novembro – 18 – 1964
O frio não havia vindo tão forte aquele ano, naquele loft
do 3º andar da Avenue des Champs-Élysées o mundo lá fora parecia ainda mais alheio a toda a realidade que ali
dentro se formava.
O barulho de uma cadeira sendo arrastada ecoou por
aqueles salões vazios do prédio em que Jack estava, ele a arrastou até próximo
a janela onde poderia ter uma bela vista dos “castanheiros da índia”, que são
árvores que ocupam toda a extensão da avenida.
Jack jogou-se nesta cadeira de madeira bruta, tal
como alguém que se acomodasse em um fino sofá de linho egípcio
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Para mim está bom demais!. (pensou ao sentir a retração do impacto em suas
costas)
Abriu levemente a janela de correr da era Vitoriana,
ao qual era grandemente fascinado, achando que foi a melhor era da humanidade,
definitivamente a “era de ouro” do mundo. Abriu o suficiente para ser
sucintamente atingido pelos finos pingos da garoa que banhava a cidade luz,
recostou seus pés no batente da janela, e acendeu um cigarro para admirar sua
inigualável beleza.
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tsc... Campos Elisios mais caros do mundo..! Balbuciou por entre a penumbra
apenas da luz que entrava pelo feixe aberto na janela.
Em um súbito inigualável de sã consciência, se
pegou imaginando o que faria ali naquele ambiente tão requintado, que
definitivamente não fazia parte do seu mundinho seleto de cães selvagens.
Foi então que ao virar sua atenção a cama, viu –a
como um anjo, um anjo decaído redentor de seus pecados mais profundos, em um
sono tão leve ao qual ainda expirava aquele desejo insaciável do proibido.
Apenas com o lençol tampando seu corpo, entrelaçada
deixando sua pele lisa como a mais perfeita peça de tecelagem refinada, o vento
gélido que entrava arrepiava seus poucos pelos ao longo de suas pernas. Ele foi
subindo sua visão cada vez mais acompanhando a curvatura daquele corpo que por
tanto tempo perseguiu, procurou nos cantos do mundo, sempre sem sucesso, e de
repente ele está ali prostrado em sua frente.
E percebeu que não só observava, mas
também era observado, o conjunto daquelas Malaquitas verdes com incomparável
beleza, em um lindo e convidativo sorriso.
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Já Em pé? – Perguntou ela com a voz rouca e se espreguiçando deixando ainda
mais de seu corpo a mostra.
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Admirando o que Paris tem de melhor – Disse Jack dando mais uma tragada em seu
cigarro e o arremessando pela janela.
-- Definitivamente
você não tem modos.
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Menos até do que gostaria - Retrucou Jack
Ela sorriu, e ele se
voltou para a porta, foi saindo de forma discreta... quase que como em câmera
lenta, ela pode ver cada micro-expressão em seu rosto. Sentimentos de Euforia,
tristeza, alegria e solidão se misturavam naquele velho rosto já cansado da
vida.
Ela não esboçou
nenhuma reação, enquanto escutava o eco dos passos no piso de madeira, cada vez
mais distantes em direção a porta, pois sabia que seria a única a quem o fazia
retornar e tomar qualquer beco como um lar, ao menos por um dia.
Ela Levantou-se e
seguiu em direção a janela, ainda pode vê-lo e acompanhou aquele caminhar
solitário, quase como uma marcha apocalíptica da solidão, até perde-lo de vista
nas trevas da cidade luz, ciente que em algum momento o veria novamente.